Ryan Gracie
Meu nome é Renato Migliaccio faixa preta quarto grau de jiu jitsu e aluno desde a faixa branca até a faixa preta do mestre Ryan Gracie.
Ryan com Certeza era uma pessoa intensa e ninguém precisava tentar adivinhar o que ele estava pensando. Uma característica extinta nesse mundo politicamente correto e hipócrita em que vivemos.
Vindo do interior de São Paulo praticante de judo cheguei em São Paulo sem muito dinheiro e muito menos condições de pagar a academia tanto de judo (Associação de Judo Vila Sonia) quanto a academia de jiu jitsu (Ryan Gracie).
Ao chegar em São Paulo sem trabalho muitas foram as dificuldades pra me estabelecer tendo que dar aulas de judo em escolinhas e creches para custear despesas tais como moradia, e alimentação.
Ryan Gracie nunca hesitou desde o primeiro momento em que pisei na academia e fui diretamente falar com ele, pedindo para treinar mesmo sem ter como pagar.
Me disse que eu deveria vir treinar sempre e competir em todas as competições possíveis para manter a bolsa em sua academia.
Sempre tive vontade de lutar o famoso vale tudo na época em que era faixa roxa, mas Ryan não me deixara e numa maneira brusca me dizia que só quando eu fosse faixa preta pois teria mais entendimento e condições de não me machucar e defender o nome do jiu jitsu.
O engraçado é ver hoje muitos atletas, sem muita experiência nem sequer alguma graduação em qualquer arte marcial se aventurando e se machucando no atual MMA.
Comecei a dar aulas de jiu jitsu, me formei na escola de educação física da universidade de São Paulo e dividia os treinos de judo, o sonho olímpico, faculdade e os treinos na academia do mestre Ryan.
A vida começou a melhorar pensei em viajar para os Estados Unidos tive visto negado varias vezes mas uma vez foi concedido e fomos lutar o panamericano de jiu jitsu na cidade de Santa Barbara na Califórnia em 2003.
Pensava em ficar uns meses por lá, para aprender inglês e treinar, mas somente tinha $300 dólares, e talvez não conseguiria ficar e deveria voltar após o campeonato.
Levei umas camisetas e kimonos para tentar vender na porta do estádio e mestre Ryan também havia levado suas camisetas e em pouco tempo consegui vender tudo, pois muitos queriam comprá-las.
No final quando devolvi o dinheiro de suas camisetas que eu havia vendido, ele sem hesitação dividiu o maço de dinheiro em dois e sem verificar quais notas haviam em cada metade, entregou uma das metades para mim e colocou a outra em seu bolso dizendo: “espero que isso te ajude a ficar aqui por uns tempos”.
Fiquei, e depois de indas e vindas hoje moro na Califórnia há quase dez anos tenho duas academias, uma com 400 alunos e outra recém aberta com cerca de 80 alunos, ensinando jiu jitsu de qualidade, jiu jitsu que me foi ensinado pelo mestre Ryan não visando somente competições mas um jiu jitsu eficaz para defesa pessoal, onde um pai possa defender sua família se preciso for e se as condições permitirem.
E não seria isso um legado do mestre Ryan?
E é esse jiu jitsu que é eficaz contra todas outras artes marciais que um dia me foi passado que ensino e de onde tiro meu sustento.
Tenho orgulho em dizer que por conta de um dia nossas vidas terem se cruzado hoje tenho quase 20 faixas pretas espalhadas pelo mundo, Áustria, Suíça, Bélgica, Inglaterra, Austrália, Canadá, Estados Unidos, Alemanha e obviamente Brasil, cada um deles com no mínimo 100 alunos e outros com mais de 300.
Hoje também trabalho ajudando a federação de jiu jitsu do Azerbaijão tentando desenvolver o esporte lá.
E não seria isso um legado do mestre Ryan?
Ensino um grupo de atores e stuntmen/dublês em Los Angeles e os ajudo em suas corografias de luta.
Tenho uma outra empresa que organiza camps de jiu jitsu na Europa e Estados Unidos reunindo cerca de 80 atletas de diversos países pra treinar, compartilhar e divulgar o jiu jitsu de verdade por esses continentes. Não somente um jiu jitsu baseado em regras e competições como a mim foi ensinado um dia.
Dou consultoria para academias de outras artes marciais que desejam começar um programa básico de jiu jitsu. E consultoria para de gestão e profissionalismo para academias de jiu jitsu.
E não seria isso um legado do mestre Ryan?
O objetivo desse artigo não é falar da minha pessoa, até porque existem lutadores de jiu jitsu da equipe Ryan Gracie, com maiores conquistas no tatame de jiu jitsu que a minha, mas é preciso dizer que isso tudo começou com ele, Ryan Gracie, quando ele me deixou treinar, quando eu não tinha como pagar e com seus ensinamentos para um jiu jitsu eficaz e de verdade.
Sim poderia ter sido outra pessoa a ter me ajudado, naquela época, mas não sei se os resultados seriam os mesmos pois com certeza seria outro jiu jitsu com outra cultura e talvez hoje eu nem estivesse ainda envolvido com o jiu jitsu.
É muito triste o fato de hoje após 10 anos de sua passagem ver um documentário atento somente no defeitos do mestre Ryan. Como se essa sociedade de hoje politicamente correta e portanto hipócrita não tivesse defeitos.
Falar de Ryan do jeito que foi falado é ignorar que muita gente e mestres da atualidade brigavam na rua, hoje isso é feio, concordo, mas aconteceu foi parte de uma história e não somente da história do mestre Ryan.
O fato do Brasil ser um país onde ainda se briga muito na rua, também é em minha opinião um dos fatores da evolução do jiu jitsu antigo pro jiu jitsu moderno e eficaz. Pois o que era treinado nas academias deveria ser realístico e eficaz pois a prova era diária.
Não sou a favor dos conflitos e violência em ruas e bares mas com certeza isso foi um grande fator na evolução do jiu jitsu brasileiro.
O jiu jitsu não evoluiria em uma sociedade mais pacata ou correta onde um soco em alguém poderia acarretar num prejuízo de mais de 20 mil dólares em gastos com processos judiciais.
Concluo dizendo que ele não foi o único que errou naquele período e que sim ele deixou seu legado no dia em que me ajudou pela primeira vez.
Eu, Renato migliaccio sou somente uma história de centenas de outras que ainda existem graças a sua ajuda e que hoje fazem parte do seu legado.
Renato migliaccio, formado em esporte pela USP, campeão mundial na faixa preta, panamericano e europeu.
Seleção brasileira de Wrestling estilo Greco Romano sendo campeão brasileiro três vezes e representado o Brasil nos jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio.
Empresário cujos todos empreendimentos, hoje, estão relacionados com o jiu jitsu que mestre Ryan Gracie me ensinou.
E não seria isso um legado do mestre Ryan?
Renato Migliaccio